Pular para o conteúdo principal

A felicidade é uma arma quente: Por Paulo Silber




Hoje fez uma semana que minha filha ligou, com a voz magoada, para avisar:
– Papai, o Belchior morreu…
Foi uma breve conversa para um longo adeus:
– Caramba, filha!
– Poxa, papai…
De resto, o silêncio. Estranhamente sólido, mas riscado de fendas. Golpes abertos nos nossos músculos, desorganizados e imprecisos como um canto torto.
Aquele canto que, feito faca, corte a carne de vocês.
Quando o silêncio se impõe entre nós, que nos amamos tanto, ele contém um grito velado de desespero ou acolhe uma inesperada epifania. Tudo depende do que nos digam nossos olhos, habituados a se expressar em silêncios.
Dali em diante, mesmo a distância, fiquei grudado à pele dela noite e dia, enxergando minha tristeza refletida nas meninas dos olhos da minha menina; desenhando, à meia-luz dos meus próprios olhos, a sombra difusa da tristeza dela.
Quando morre alguém que eu amo, me sinto um homem menor.
Assim fiquei, miúdo, até quarta-feira, quando cheguei a Parauapebas para participar do Publicom. Mesmo envolvido com o dever de falar e imbuído da obrigação de ouvir tudo o que foi dito e escutado nestes três dias, nada do que eu disse foi falado sem ao menos uma menção ao Belchior, por menor que fosse: uma palavra, um verso, uma ironia, uma certeza, uma revelação, uma inquietude, uma expressão de amor ou revolta, ternura ou desprezo, angústia ou felicidade.
Como é perversa a juventude do meu coração.
Toda vez que precisei dizer, o Belchior falava, oferecendo-me argumentos legitimados pela emoção. Nem todos politicamente corretos, pois não me sinto obrigado a falar como supostamente se deve, daquele jeito correto, suave, muito limpo, muito leve.
Palavras, como os sons, são navalhas – e eu não posso falar ou cantar como convém, sem querer ferir ninguém.
Municiado por frases de outrora, ainda plausíveis em novos contextos, citei e ressuscitei Belchior nas entrevistas, nos workshops, nos rituais do evento ou nas conversas reservadas. No auditório, no hotel ou no bar. Para muitos ouvidos, pouca audiência ou um reles travesseiro.
No mundo das referências subjetivas, que se entregam às conexões necessárias às quais recorro, a poesia, a reflexão, a razão e a loucura de Belchior ainda pulsam.
Com tal importância, que brotou felicidade onde havia angústia, o que me ajudou a convencer muita gente de que, no universo da comunicação, é preciso viver as coisas novas, que também são boas. Acabar com isolamentos, de práticas ou de pessoas, pela simples percepção de que toda distância é apenas o princípio de uma aproximação.
Com tal relevância, que iluminou vontades secretas, como o Sol acende quintais, ajudando-me a demonstrar a que a comunicação de hoje deve estar onde a gente quiser que ela esteja, priorizando a sociedade dos cidadãos e não os mandriões da sociedade. Recolocando-nos na condição de ouvidores das pessoas e mediadores da informação. Guardiães da reputação, sim, desde que tenhamos presença firme à mesa das decisões e não sejamos segregados nos sofás dos mandados. Para assumir responsabilidades e impor bom senso, respeito e verdade.
Com tal presença, que se começa a formar uma rede de colaboradores agregando instituições de credibilidade, como a Think Olga, e profissionais de grande qualidade, diversas habilidades e muita disposição, capazes de reafirmar uma premissa cada vez mais orgânica: os valores individuais, quando praticados de forma coletiva, nos igualam pela grandeza.
O Publicom Pebas foi intenso, revelador, importante, diversificado e ao mesmo tempo convergente. Focado, mas sem abrir mão do engajamento.
Para mim, que cheguei a Parauapebas trajando tristeza e encerrei o encontro todo prosa, becado pelo sorriso que vem da alma, foi um Publicom feliz.
Muito feliz.
Acredito que essa felicidade tenha contagiado a todos: à cidade que nos recebeu e à Secom que foi recebida, com tanto carinho e respeito.
Obrigado, Parauapebas. O respeito e o carinho são recíprocos. Os resultados são promissores, porque nos estimulam e libertam, transformando a felicidade numa arma quente.
Pois é, o tempo andou mexendo com a gente, sim.
Não é, Belchior?
Eu sinto tudo na ferida viva do meu coração.
Paulo Silber é jornalista e Diretor de Jornalismo da Secretaria de Comunicação do Pará (SECOM)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Gincana reforça aprendizagem na Escola Antonio Matos Filho

Mais de 500 alunos da Escola Municipal Antônio Matos Filho, do 6º ao 9º ano, participaram na manhã da última sexta-feira, 5, da 1ª Gincana de Matemática Gincalculando. A competição faz parte do projeto interdisciplinar de acompanhamento aos alunos com dificuldade de aprendizagem. De caráter lúdico e com grande potencial didático, o objetivo da gincana é estimular, realizar interação entre os alunos e fortalecer o aprendizado. Foram 12 provas envolvendo a disciplina de matemática associada à língua portuguesa, história e inglês. Os estudantes foram avaliados pelo corpo de jurados, formado por quatro professores de matemática da Secretaria Municipal de Educação (Semed). Os alunos foram distribuídos em 16 equipes, todas representadas por cores. Ao final da competição, a equipe amarela (7º ano) foi a vencedora e levou o troféu de campeã. Os estudantes vivenciaram desafios matemáticos, com brincadeiras bem divertidas, inspiradas em problemas de raciocínio lógico, que incentivar...

DIA MUNDIAL DO LIVRO É MARCADO POR EVENTO LITERÁRIO EM PARAUAPEBAS

Com o objetivo de comemorar o Dia Mundial do Livro e levar os alunos a compreender a importância da leitura, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Chico Mendes realizou na tarde da última quinta-feira, 20, no auditório do Centro Universitário de Parauapebas (Ceup), um grande evento literário. Intitulado “Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor”, o projeto envolveu alunos dos 3º e 4º ciclos e abordou o tema “A Importância da Leitura e Valorização dos Escritores de Parauapebas”, quando todos tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre literatura, a produção literária local e seus escritores. Na ocasião, os alunos também foram protagonistas, com apresentações de peças, dramatizações de grandes obras da literatura nacional e declamações de poemas de escritores locais. Marcaram presença no evento os escritores José Francisco Brito – “Chico Brito” e Terezinha Guimarães; o professor, blogueiro e também escritor Luís Vieira; o blogueiro José Eduardo Fe...

Garota de Parauapebas participa de concurso de beleza no Rio de Janeiro

O município de  Parauapeba s tem uma candidata ao título de  Musa de Ipanema . Trata-se de  Poliana Veiga , que tem 23 anos de idade e está participando do concurso que conta com nove participantes no total. Natural de  Manaus , no Amazonas,  Poliana  é bastante conhecida em  Parauapebas  e região no mundo da moda, sendo eleita Musa do Carnaval, Rainha do Turismo, entre outros vários títulos. “Não nasci em Parauapebas, porém, moro lá há 12 anos e já adotei a cidade como minha terra natal, afinal, foi por lá que cresci profissionalmente e sou eternamente grata a Deus e a todos da cidade” , relatou  Poliana Veiga  que está passando uma temporada em São Paulo-SP, onde é agenciada por uma empresa de modas e vem tocando a sua carreira em grandes eventos. Sobre o evento: Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, é uma das praias mais famosas do país e cartão postal da cidade. Ao longo dos anos foi a inspiração das obras de diversos esc...