Hoje fez
uma semana que minha filha ligou, com a voz magoada, para avisar:
– Papai,
o Belchior morreu…
Foi uma breve conversa para um longo adeus:
– Caramba, filha!
– Poxa, papai…
Foi uma breve conversa para um longo adeus:
– Caramba, filha!
– Poxa, papai…
De resto,
o silêncio. Estranhamente sólido, mas riscado de fendas. Golpes abertos nos
nossos músculos, desorganizados e imprecisos como um canto torto.
Aquele canto que, feito faca, corte a carne de vocês.
Aquele canto que, feito faca, corte a carne de vocês.
Quando o
silêncio se impõe entre nós, que nos amamos tanto, ele contém um grito velado
de desespero ou acolhe uma inesperada epifania. Tudo depende do que nos digam
nossos olhos, habituados a se expressar em silêncios.
Dali em diante, mesmo a distância, fiquei grudado à pele dela noite e dia, enxergando minha tristeza refletida nas meninas dos olhos da minha menina; desenhando, à meia-luz dos meus próprios olhos, a sombra difusa da tristeza dela.
Dali em diante, mesmo a distância, fiquei grudado à pele dela noite e dia, enxergando minha tristeza refletida nas meninas dos olhos da minha menina; desenhando, à meia-luz dos meus próprios olhos, a sombra difusa da tristeza dela.
Quando
morre alguém que eu amo, me sinto um homem menor.
Assim fiquei, miúdo, até quarta-feira, quando cheguei a Parauapebas para participar do Publicom. Mesmo envolvido com o dever de falar e imbuído da obrigação de ouvir tudo o que foi dito e escutado nestes três dias, nada do que eu disse foi falado sem ao menos uma menção ao Belchior, por menor que fosse: uma palavra, um verso, uma ironia, uma certeza, uma revelação, uma inquietude, uma expressão de amor ou revolta, ternura ou desprezo, angústia ou felicidade.
Assim fiquei, miúdo, até quarta-feira, quando cheguei a Parauapebas para participar do Publicom. Mesmo envolvido com o dever de falar e imbuído da obrigação de ouvir tudo o que foi dito e escutado nestes três dias, nada do que eu disse foi falado sem ao menos uma menção ao Belchior, por menor que fosse: uma palavra, um verso, uma ironia, uma certeza, uma revelação, uma inquietude, uma expressão de amor ou revolta, ternura ou desprezo, angústia ou felicidade.
Como é
perversa a juventude do meu coração.
Toda vez que precisei dizer, o Belchior falava, oferecendo-me argumentos legitimados pela emoção. Nem todos politicamente corretos, pois não me sinto obrigado a falar como supostamente se deve, daquele jeito correto, suave, muito limpo, muito leve.
Toda vez que precisei dizer, o Belchior falava, oferecendo-me argumentos legitimados pela emoção. Nem todos politicamente corretos, pois não me sinto obrigado a falar como supostamente se deve, daquele jeito correto, suave, muito limpo, muito leve.
Palavras,
como os sons, são navalhas – e eu não posso falar ou cantar como convém, sem
querer ferir ninguém.
Municiado
por frases de outrora, ainda plausíveis em novos contextos, citei e ressuscitei
Belchior nas entrevistas, nos workshops, nos rituais do evento ou nas conversas
reservadas. No auditório, no hotel ou no bar. Para muitos ouvidos, pouca
audiência ou um reles travesseiro.
No mundo
das referências subjetivas, que se entregam às conexões necessárias às quais
recorro, a poesia, a reflexão, a razão e a loucura de Belchior ainda pulsam.
Com tal
importância, que brotou felicidade onde havia angústia, o que me ajudou a
convencer muita gente de que, no universo da comunicação, é preciso viver as
coisas novas, que também são boas. Acabar com isolamentos, de práticas ou de
pessoas, pela simples percepção de que toda distância é apenas o princípio de
uma aproximação.
Com tal
relevância, que iluminou vontades secretas, como o Sol acende quintais,
ajudando-me a demonstrar a que a comunicação de hoje deve estar onde a gente
quiser que ela esteja, priorizando a sociedade dos cidadãos e não os mandriões
da sociedade. Recolocando-nos na condição de ouvidores das pessoas e mediadores
da informação. Guardiães da reputação, sim, desde que tenhamos presença firme à
mesa das decisões e não sejamos segregados nos sofás dos mandados. Para assumir
responsabilidades e impor bom senso, respeito e verdade.
Com tal
presença, que se começa a formar uma rede de colaboradores agregando
instituições de credibilidade, como a Think Olga, e profissionais de grande
qualidade, diversas habilidades e muita disposição, capazes de reafirmar uma
premissa cada vez mais orgânica: os valores individuais, quando praticados de
forma coletiva, nos igualam pela grandeza.
O
Publicom Pebas foi intenso, revelador, importante, diversificado e ao mesmo
tempo convergente. Focado, mas sem abrir mão do engajamento.
Para mim,
que cheguei a Parauapebas trajando tristeza e encerrei o encontro todo prosa,
becado pelo sorriso que vem da alma, foi um Publicom feliz.
Muito feliz.
Muito feliz.
Acredito
que essa felicidade tenha contagiado a todos: à cidade que nos recebeu e à
Secom que foi recebida, com tanto carinho e respeito.
Obrigado, Parauapebas. O respeito e o carinho são recíprocos. Os resultados são promissores, porque nos estimulam e libertam, transformando a felicidade numa arma quente.
Obrigado, Parauapebas. O respeito e o carinho são recíprocos. Os resultados são promissores, porque nos estimulam e libertam, transformando a felicidade numa arma quente.
Pois é, o
tempo andou mexendo com a gente, sim.
Não é, Belchior?
Eu sinto tudo na ferida viva do meu coração.
Não é, Belchior?
Eu sinto tudo na ferida viva do meu coração.
Paulo
Silber é jornalista e Diretor de Jornalismo da Secretaria de Comunicação do
Pará (SECOM)
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